segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Manoel de Barros e a ação amiga do professor

Professora Mytercia Bezerra junto a seus alunos


Em reconhecimento a todas as professoras e professores que homenageiam sua profissão valorizando as particularidades de seus alunos, neste 15 de outubro de 2012.

Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas

leituras não era a beleza das frases, mas a doença

delas.

Comuniquei ao padre Ezequiel, um meu preceptor,

esse gosto esquisito.

Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.

– Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável,

o Padre me disse.
Ele fez um limpamento em meus receios.

O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,

pode muito que você carregue para o resto da vida

um certo gosto por nadas...

E se riu.

Você não é de bugre? – ele continuou.

Que sim, eu respondi.

Veja que bugre só pega por desvios, não anda em

estradas –

Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas

e os ariticuns maduros.

Há que apenas saber errar bem o seu idioma.

Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de

agramática.


Manoel de Barros

BARROS, Manoel. O livro das Ignorãças. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1994. pp.89.

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